Directo e loquaz, perfeccionista e imprevisível, com
um sentido de humor brincalhão, confessa que os
anos lhe revelaram que „o açúcar é mau e que o
cabelo nos cai”, mas também „a não julgar ninguém,
a não me sentir culpado e a distinguir a generosidade da avareza”, disse hoje à agência EFE, numa entrevista telefónica.
Julio Iglesias cativou pessoas jovens e menos jovens
com aquilo que não se vê: a voz. Uma voz
extraordinária, cálida e visceral, com um timbre
sedutor. Através dos anos esta voz foi acumulando
afetos, boémia, amores feitos e desfeitos, uma
vastidão de experiências e a convicção de que a
felicidade, como dizia o escritor Ramón Pérez de
Ayala, é, no fim de contas, um produto de fabrico
caseiro.
Hoje, quando o ouvimos cantar „El amor” ou
„Caruso”, não podemos deixar de pensar que ainda
há uma estirpe de cantores que não se perdeu.
No próximo dia 22 de Fevereiro, o cantor espanhol
mais universal encontrar-se-á com o público de Miami no American Airlines Arena para continuar a sua longa tournée pelos Estados Unidos com espectáculos em
Clearwater, Naples e Jacksonville (também na Fló
rida), e nos estados de Califórnia, Arizona, Novo Mé
xico, Nova Jersey, Texas e Nevada. No dia 24 de Abril cantará no Carnegie Hall de Nova York numa gala em homenagem a Óscar de la Renta.
Uma tournée de concertos que o levará também pela América Latina (México, Panamá, Nicarágua) e por toda a Europa, com actuações em Espanha,
Inglaterra, França, Holanda, Suécia ou Irlanda do
Norte, entre outros países.
PERGUNTA ― Que emoções desperta em si esta longa tournée mundial com mais de 80 concertos, trinta deles nos Estados Unidos?
RESPOSTA ― O melhor não é isso. O melhor é que
quero dá-los. Se eu não cantasse, morria física e
psicologicamente. Cantar dá-me a alegria de saber
que estou vivo.
P. ― Uma tournée que deve exigir um enorme
trabalho de preparação física e mental…
R. ― Subir a um palco aos 70 anos não é fácil. São
duas horas de concerto em que há uma grandíssima
intensidade e estou sozinho no palco; tudo é paixão,
emoção e dar a vida toda aí.
P.― E como resiste a esse ritmo de actuações tão
intenso? É muito severo consigo mesmo?
R. ― A minha vida é total e absolutamente
disciplinada até ao masoquismo. A minha disciplina é
de ferro. Comigo sou severo, disciplinado. Sou um
estóico.
Julio Iglesias nunca esconde que o êxito forma parte
integral do tecido da sua vida, contrariamente aos
que pensam que é uma miragem à qual não se deve
prestar atenção. Êxito, sim, mas resultado do sacrifí
cio.
„O êxito é uma maravilha porque permite-nos ter um brilho nos olhos, mas se não for um êxito com sacrifício, então não é um êxito gratificante”, afirma o cantor espanhol, que recebeu em Abril de 2013 o
troféu Guinness Records por ser o artista latino com mais discos vendidos do mundo.
Dá como exemplo desta indissolúvel fusão de êxito e
sacrifício o caso do tenista Rafael Nadal. „O meu Rafa da alma, que joga com as mãos cheias de chagas (nos torneios do Open da Austrália), num acto de vontade e sacrifício total e uma dor constante”, conta com admiração.
P. ― Então quer dizer que tudo o que vale a pena na
vida implica esforço?
R. ― Sim. A felicidade implica um grande esforço. A
felicidade nunca é de graça. A única felicidade
gratuita é a da lotaria.
P.― Qual é o melhor idioma para fazer amor?
R.― O idioma dos olhos. As palavras esquecem-se e
são levadas pelo vento. Os olhos ficam para sempre.
O cantor madrileno faz uma pausa, como que
pensativo, e de repente começa a falar da sua relação com Miranda: „A minha relação com a minha mulher é de um amor profundíssimo e de um respeito grandíssimo. Há anos que não imagino a minha vida sem ela. A Miranda é totalmente generosa com a vida e tem umas qualidades excepcionais”.
Posteriormente refere-se aos filhos e o quão difícil é
decifrar „o que farão os mais novos” no futuro, que
qualidades terão. Por exemplo, explica „Não esperava que o Henrique fosse o fenómeno que é; a qualidade humana e artística do Julio (Iglesias Jr.) ou a bondade da minha filha mais velha (Chábeli)”.
Relativamente aos cinco filhos que tem com a Miranda (Miguel, Rodrigo, as gémeas Victoria e Cristina e Guillermo), assegurou que o mais importante é que sejam „primeiro, generosos como a mamá e depois competitivos. Têm que se aperceber de que tiveram, de que têm muita sorte e que têm que a merecer”.